sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Concorrência desleal no mercado de cervejas? Isso existe?


A concorrência no mercado brasileiro de cervejas

Há décadas se ouve sobre histórias de práticas de mercado escusas realizadas por grandes cervejarias de forma a promover a concorrência desleal no segmento de cervejas, no Brasil. 

Algumas pesquisas que realizei para um novo livro que estou escrevendo, vi diversos periódicos e documentos que tratavam o tema "abuso da concorrência", danificando mercados locais.

Na década de 1960, Teodomiro Braga, Hermógenes Ladeira e outros pequenos produtores denunciavam ao SNI (Serviço Nacional de Informações) e ao CADE os atos das grandes cervejarias sobre vendas casadas. O mesmo ocorreu na década de 1990 quando da união da Antárctica com a Brahma.

Recentemente, um amigo do segmento comentou no Facebook sobre a atual prática de venda de cervejas por parte da Ambev, que está colocando no mercado cervejas especiais e importadas com "50% de desconto" ou ainda "pague 1 leve 2". (Não se trata de cervejas com vencimento próximo).

Ao seu ver, (pelo ao menos foi o que entendi) a prática da Ambev se trata de algo normal, e para tanto ele ilustrou o seu ponto de vista por meio de um pequeno documentário chamado de "Como o lobos mudam rios".

O referido documentário retrata que sem um predador (no caso o lobo) em um ambiente habitado unicamente por herbívoros haveria um desiquilíbrio do ecossistema local e dessa forma o suprimento vegetal seria prejudicado e outros habitantes e o meio sofreriam com isso, inclusive os rios. Dessa forma predados, (herbívoros) deveriam se adaptar às ações do predador se direcionando para outros cantos e agindo de outras formas em busca da sobrevivência, ou seja, uma questão de adaptação ao ambiente com a presença do predador. A analogia foi até legal e interessante só que acredito que o predador do ecossistema em análise (mercado de cervejas) não se trata de um lobo e sim de um caçador...e dos bem armados. 

Alguns cervejeiros mencionam que a prática ambeviana é considerada como um ato de "dumping".Ledo engano. Dumping é uma discussão comercial a ser realizada e discutida entre países e não entre empresas na OMC (Organização Mundial do Comércio), que questionam práticas abusivas que prejudicam mercados entre si. Portanto, não se trata de dumping.

O que vem ocorrendo atualmente é, talvez, prática lesiva à livre concorrência. É vender abaixo das margens razoáveis de lucro para prejudicar um mercado. Vou explicar melhor: consultando um site simples de vendas de cervejas da marca "Goose Island" nos Estados Unidos (http://www.wine-searcher.com/find/goose+island+india+pale+ale+beer+illinois+usa) a cerveja long neck de 355 ml é vendida em média a R$ 6,36. Como vendê-la no Brasil após a conversão da taxa de câmbio, pagamento dos impostos de importação, ICMS, IPI, PIS, COFINS, dos gastos com logística, do lucro da Ambev e o lucro do distribuidor a R$ 7,45 ou seja, a R$1,09 de margem bruta? Aí está o "X" da questão. O import parity, (import parity é a comparação que se faz entre o preço de venda nacional do produto no cliente final comparado com o preço de venda de um produto importado que foi nacionalizado de igual teor) é discrepante. (O preço de uma long neck é em torno de R$ 16,00). Não há produtor que consiga tirar lucro sustentável com tal margem. É dar produto ao mercado para prejudicar o direto da livre concorrência. É destruição de valor. É destruição de mercado.

Pelo atual cenário, parece que importar cerveja dos Estados Unidos seria o máximo e todos deveriam fazer o mesmo, pois produzir cerveja no país pelo custo Brasil não valeria a pena. Seria isso mesmo? Ou ainda: o preço da long neck de uma IPA do microcervejeiro nacional estaria demasiadamente caro porque os microprodutores gostam de cobrar caro e o governo adora isso, pois cobram mais impostos?

São pontos a serem refletidos. Nem tanto o céu, nem tanto a terra. Tem que haver entendimento sobre a prática e intervenção por parte do CADE ou órgão semelhante, pelo menos para uma primeira análise, com o apoio dos Sindicatos de Cervejas, pois se trata de uma situação crítica ao setor microcervejeiro. Nessas condições, não há competição. O microcervejeiro sofrerá um colapso. É uma situação de urgência.

Por enquanto, vou me adaptando ao ambiente. Vou tomar cerveja, dos amigos, claro. Um brinde!


6 comentários:

  1. Destruição de valor, boas palavras!

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  2. Sério e verdadeiro. O segmento cervejeiro tem que se unir, movimentar e juntamente com apoio político pensar em algo que possa reverter essa concorrência desleal.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Vejo que, além do "estrangulamento" através dos preços, existe outro ainda mais forte, do qual não se tem mto o que fazer, e ele é silencioso: O poder da distribuição.
    E isso não se dá somente na logística, mas também nas negociações de gôndolas no grande varejo, impedindo a entrada dos "pequenos".
    Enquanto isso, as pequenas cervejarias ficam limitadas em distribuidoras e empórios de bairros.

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